Por Dentro da Lei

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17 de dezembro de 2012

Leitura une presos e candidatos ao exame da OAB


João Ibaixe Jr



É possível leitura unir presos e candidatos? Sim. O preso que lê pode sair da cadeia mais cedo. E o candidato se liberta da prisão de sua ansiedade. O estudo redime a ambos e os alivia da pesada carga que carregam em sua alma: o medo do fracasso.

Quem é condenado a um crime, é sentenciado não a uma pena, mas ao fracasso; o fracasso em sua intenção de viver mais abastadamente, segundo pensava; viver mais intensamente, segundo desejava; viver melhor, segundo sonhava.

O candidato ao exame da OAB também sente uma condenação em seu espírito. Após ter vencido a etapa da formatura, ter galgado cinco anos exigidos para sua formação como bacharel, vê-se lançado à obrigação de prestar prova para conquistar a carreira de advogado.

Ambos, preso e aluno, estão envolvidos no sempre presente drama humano histórica, mitológica e literariamente constante de superarem-se a si mesmos por meio de percursos que devem ser trilhados para se conquistar algo. São as chamadas provas iniciáticas, que nestas duas categorias tem significado praticamente único. O preso só volta ao convívio social após vencer sua pena, o candidato, ao vencer sua prova. E nada disto tem a ver com justiça.

Por que falar em união entre presos e futuros advogados? Será porque, como querem alguns auto eleitos paladinos da justiça, os advogados mereceriam estar todos atrás das grades por defenderem criminosos?

Não, caro leitor. Presos e candidatos à OAB estão unidos por outras circunstâncias.

A um mês da véspera do Natal, um juiz de Santa Catarina decidiu algo inédito: conceder remição da pena a presos que realizarem uma única atividade, a da leitura.

A ideia é o preso diminuir sua pena pela prática continuada da leitura. Como? O preso que ler um livro e fizer um relatório dessa leitura reduzirá sua pena em quatro dias. O estudo de uma obra o conduzirá à redução de sua pena.

Os defensores de se jogar o condenado na cadeia e sumir com a chave se arrepiarão todos. Afinal, o problema carcerário se resolve com penas eternas. Estes são os mesmos que falam em crimes de homofobia e de pedofilia ou mesmo de bigamia, com penas mais graves que o homicídio, desde que esteja na moda. São os que não conhecem realidade alguma, pois pretendem sempre ficar no plano do politicamente correto.

A literatura pode sim redimir almas. A leitura é um mecanismo humano quase mágico, quando feita com lúdica seriedade – aquela mesma das crianças quando brincam. Ela mergulha o espírito num ambiente que o torna quase invulnerável, o do imaginário. Um espaço irreal, mas do qual, quando se emerge, sente-se de forma muito mais vibrante todo o mundo ao redor.

Se o projeto desse juiz catarinense for seguido com compromisso, presos serão resgatados, certamente.

E os candidatos? A leitura é também essencial. A compreensão, importantíssima. A memorização, fulcral. Não desperdice seu tempo com leituras supérfluas, com citações sem referência do facebook, no qual vemos Shakespeare falar coisas que nunca escreveu, em que vemos a imagem de índio americano ao lado da poesia de Pessoa. Esqueça essa besteira. Estude seriamente.

Aqui a compreensão tem de estar ligada à memorização. O candidato tem de lembrar-se de temas, assuntos e pontos. É uma prova de conhecimentos gerais a ser superada.

Agora, quando for aprovado, como advogado, o método de leitura será outro. Não estude mais para colorir suas petições. Não cite Platão e Aristóteles a torto e direito. Eles nunca foram advogados. Eram filósofos e como tais podem colaborar em nossa reflexão sobre a vida. Essa vida que vivemos e cujo futuro tememos por nos ser um grande desconhecido.

Confie em si, confie em seus ideais, busque a aprovação. Mas não se esqueça, você está lutando para ser advogado. E advogado é aquele que tem a missão específica de ser chamado para defender seus concidadãos quando cada um deles sente medo e não tem condição, sozinho e isolado, de enfrentar o percurso que o pode libertar.

Fonte: Última Instância

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